Cumbuca Bares e Butecos de Campinas

por Lívia Mota

Comecei a beber em casa. Aprendi a beber com a minha família. Pausa. (Antes de continuar este texto, no entanto, preciso dizer que não se trata de uma apologia ao consumo de álcool. Trata-se de um conto da minha história).

Seguindo.

Associada aos aniversários, natais e almoços normais, a cerveja e a cachaça regavam, quase sempre, momentos de alegria. Vez ou outra, de des (alegrias). Pelo lado do meu pai, meus avôs paternos e suas relações mais próximas ao meio rural, ao sítio, com a ordenha das vacas e dos alambiques, me apresentaram a pinga. Minha avó bebia sua dose preparando o almoço.

Do lado da minha mãe, meu avô materno, operário já aposentado, sindicalista, amante e amante traído do Lula, me apresentou o chope e a cerveja. Ele bebia escondido suas últimas latinhas antes de partir pro céu. Cresci vendo os homens e as mulheres da minha família bebendo. E cresci vendo e aprendendo que há limite, que precisa ter tira-gosto e que passar da conta não é saber beber.

Dentro desta minha família etílica, minha mãe, com quem tive fortes embates por um tempo por conta da bebida, dizia “só queria ser homem para poder entrar num bar, encostar o cotovelo no balcão e tomar minha cerveja sossegada”. Esta frase badalou na minha cabeça com revolta e recusa durante a adolescência. Como assim? Minha mãe pensa assim? Ela acha isso bonito? Credo! Eu dizia e pensava credo! Mas o que a gente mais critica e julga no outro é o que a gente mais deseja ter (ou ser).

Pois bem! Hoje, bem maior de idade, abraço todo esse meu sentimento lá de trás. Acolho aquela menina que precisava sentir a revolta e a raiva e a levo para beber no primeiro bar da esquina que vier. Quando a gente cresce, amadurece, cai do pé e começa a germinar nossas próprias raízes, a gente se liberta e liberta o outro. A gente se descontrói. Dói, mas cura. Hoje, a frase da minha mãe não me magoa. Me fortalece. Eu a altero, com a permissão da autora, dizendo “só queria entrar num bar, encostar o cotovelo no balcão e tomar minha cerveja sossegada sendo mulher”.

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